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terça-feira, 19 de outubro de 2010

O homem da noite

Queridos amigos, como eu havia prometido na noite passada, publico, a seguir, uma de minhas crônicas, um pouco antiga. Hoje não costumo usar sensualidade em meus textos. Até a ironia eu evito, a fim de não tornar-me jocoso. :)

Uma agradável leitura a todos!


O homem da noite

Madrugada de sexta-feira. Lá estava ele novamente: um simples mendigo sentado à beira de uma calçada, com um pedregulho lhe servindo de travesseiro. Revira-se em busca de conforto, palavra desconhecida em seu diminuto vocabulário. Ao tentar dormir, se dá conta de que havia encontrado uma caixa de papelão pesada e que ainda não tinha conferido seu conteúdo. Abrindo-a, deparou-se com uma porção de livros usados. Alguns sequer tinham capa. Ele escolhe um destes e abre.

Perturbado pelo rigoroso calor que fazia em Rio Grande naquela madrugada, antes de dormir começa a ler o tal livro. Sem capa, era inviável ter conhecimento do seu titulo ou de que assunto se tratava. Mesmo assim, possuidor de fantásticas palavras, o conteúdo lhe hipnotizava o olhar. Nisso, pára um carro luxuoso e uma mulher linda o convida para entrar. Desconfiado, aproxima-se do carro e pergunta o que ela queria. Ela respondeu que não queria nada em especial, apenas um sorriso seu. O mendigo pensa no que tem a perder e não encontra nada. Dá um leve sorriso, ainda desconfiado e entra no carro da mulher. No seu interior o cheiro a champagne o extasiava. Ela lhe oferece um copo da tão perfumada bebida e ele não recusa. Entre um gole e outro, pergunta novamente o que uma mulher tão jovem e bela poderia querer com ele, um coroa sujo e infeliz. Ela, sem responder, ordena que o motorista estacione num caro restaurante de Rio Grande e o convida para jantar. O mendigo, envergonhado com as roupas que vestia, se exalta e começa a apontar para seu corpo, mostrando-lhe o estado em que se encontrava. Ela lhe interrompe, sorrindo, e pede para ele olhar novamente – e com mais calma – suas roupas Com os olhos arregalados, ele olha para seu corpo e se da conta de que, sem saber como, está vestido em um traje de gala. Enquanto isso, o motorista já está com a porta do carro aberta para a dama descer. Ela faz a volta e contrariando o que é de costume, abre a outra porta para o pobre homem. Pega em sua calejada mão e entram no restaurante.

Uma mesa estava reservada para o casal. Olhando incessantemente para o menu – apenas por curiosidade, pois ele não conhecia qualquer tipo de comida ali contida – cala-se diante de tanta satisfação aliado ao medo do desconhecido, um típico “estranhamento”. A mulher pede ao garçom dois pratos de uma iguaria típica da região. Enquanto não aprontava, ele bebia grande quantidade de champagne, aproveitando-se da situação que até o momento lhe era favorável. Dentro de alguns minutos, o garçom com o pedido chega à mesa. Saboreiam toda a “especialidade da casa” e a linda jovem sorri para ele, com uma malicia irrefutável no olhar. Ele sorri sem jeito e agradece o jantar, ainda com os cantos da boca sujos de comida. Fina e elegante, pega em sua mão e, fitando-lhe os olhos, faz outro convite. Dessa vez para irem a um lugar mais tranquilo, só para os dois, pois ela estava muito carente há alguns meses. Surpreso, molha os lábios bebendo mais champagne, se engasga e cai. Na queda, bate com a cabeça no chão.

Derrepente o mendigo se acorda. Ainda era de madrugada. Ele não está em algum restaurante, mas sim sozinho na rua, ainda com muito calor. Olha para os lados e não encontra mulher alguma: nem mesmo uma viva-alma para lhe acompanhar. Sequer está em um traje de gala. Assustado e sem saber o que tinha acontecido, guarda o livro sem capa e põe sua cabeça encima da caixa de livros usados, servindo-lhe de travesseiro. Vira-se de lado e dorme.

O homem da noite havia tido uma alucinação devido ao forte calor e acabou viajando junto com a estória do livro, tendo um sonho, apenas um sonho. Madrugada de sexta-feira. Lá estava ele novamente.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, Vani. Viajei no texto da mesma forma como o mendigo alucinou-se em seus sonhos após ler o livro cuja capa já não se via. hehe

    Abração, primo. :)

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